Antiga Fábrica de Gás da Matinha – Lisboagás
Sofia Brogueira Henriques com Madalena Serro, Bruna Parro e Madalena Caiado
Foto de Rui Pedro Benevides
A proposta:
TRANSPARÊNCIA – UMA QUALIDADE A PRESERVAR
As estruturas dos gasómetros – esbeltas e delicadas, hoje “volumes sem massa” – são construções excepcionais, desmaterializadas e incompletas. O olhar atravessa as estruturas e tem como plano de fundo o Céu e o Rio. As malhas estruturais finas dos gasómetros sobrepõem-se e surgem com maior clareza contra um fundo de cor sem forma definida.
Torna-se então importante garantir que o espaço à volta dos gasómetros permaneça livre, para que esta capacidade de “serem atravessáveis pelo olhar” não desapareça.
Propõe-se então a construção dos vários equipamentos apenas ao nível do piso térreo e nos limites do terreno, constituídos de uma matéria sólida e opaca, distinguindo-se das estruturas esbeltas dos gasómetros.
SUSTENTABILIDADE – USOS E ACESSIBILIDADES
Pela sua dimensão e escala, os gasómetros tornam-se uma referência no imaginário colectivo e são parte da identidade da cidade.
Hoje à margem da vida da cidade, torna-se imperativo resgatar este espaço para a cidade e, acima de tudo, dar-lhe um uso colectivo, público e social, que possa pôr em evidência o passado industrial ligado, outrora, à sustentabilidade da cidade.
PADRÕES DE USO SUSTENTÁVEL DO TERRITÓRIO
Pretende-se então que este território dê resposta à carência de equipamentos públicos existente na envolvente próxima, que se está a tornar cada vez mais de carácter residencial.
Apesar de encontrarmos no Parque Expo uma enorme concentração de equipamentos de excepção, a falta de equipamentos públicos de uso quotidiano é prova do “incompleto”/”mau” funcionamento interno desta parte da cidade.
Assim, a proposta prevê para esta área um espaço de carácter colectivo que possa ser suportado e suporte de uma envolvente sobretudo habitacional tornando-se parte de um sistema urbano articulado.
PROGRAMA:
USO EFÉMERO — GASÓMETROS que funcionariam como suporte de usos efémeros de excepção: concertos, exposições, teatros, espectáculos, desfile, palestras, (etc.) e permanentemente como Miratejo.
USO PERMANENTE — MURO que alberga as actividades de uso quotidiano: ginásio/balneários, creche/brincatório, centro-dia/centro de convívio, alguns espaços para ateliers, cursos, conferências e equipamento de apoio (wc, arrumos), zonas administrativas e estacionamento.
O que disse o júri:
Pela apropriação do espaço da antiga Fábrica de Gás da “Matinha”, espaço que, de facto, parece carecer de intervenção, pelo modo como requalifica e potencia as suas formas industriais, pelo seu programa de carácter social e modo como propõe compatibilizar actividades de carácter efémero, pela qualidade das imagens que comunicam a proposta.
Contributo para uma reflexão:
Uma grande estrutura industrial apropriada para um uso lúdico é a provocação lançada por Sofia Brogueira Henriques. Tornar um espaço hostil à escala humana em palco para encontros improváveis, abertos a uma vivência que lhe julgaríamos impossível. A proposta fica também como pergunta: pode a cidade regenerar-se partindo de não-lugares pré-existentes, dando lugar a outras formas de existência urbana mais plena de vida?
Antiga Fábrica de Gás da Matinha – Lisboagás
Sofia Brogueira Henriques with Madalena Serro, Bruna Parro and Madalena Caiado
Image by Rui Pedro Benevides
The proposal (summary):
Gasometer structures – graceful and delicate, “volumes without substance” – are exceptional constructions, dematerialized and incomplete. The view crosses these structures and finds the Sky and the River as background. It becomes important to preserve the transparency of this great apparatus.
For its dimension and scale, gasometers become a reference to the collective conscience and become a part of the city’s identity. It’s imperative to retrieve this space to the city and, above all, to provide it with a collective, public and social use. A proposition is made to transform these empty structures into a stage for ephemeral functions: concerts, exhibitions, theatre plays, parades.
What the jury said:
For the way it retrieves a space that lacks intervention; for the way it qualifies and accentuates its industrial forms; for its social program and compatibility with ephemeral activities; for the quality of the images that communicate the proposal.
Contribute for a reflection:
A wide industrial structure reclaimed for a playful use is the provocation launched by Sofia Brogueira Henriques. To turn a space that is hostile to the human scale into a stage for unpredictable encounters, open to a livelihood that we would deem impossible. The proposal stays as an interrogation: can the city regenerate itself from within, from its pre-existing non-places, creating new forms of urban existence, more filled with life?