A Cidade como teatro de espectáculos; o vazio como palco de operações
Maria João Fonseca e Maria Quintino
Imagem de António Bettencourt e Márcio Vilela
A proposta
A acção do cidadão enquanto interveniente activo na construção de vivências e espaços é urgente e cada vez mais necessária.
A incapacidade do poder local em manter toda a cidade operacional e funcional é diminuta, estando o desenvolvimento em meio urbano cada vez mais nas mãos de investidores privados e de iniciativas individuais.
Cada cidadão tem o direito de intervir na construção dos espaços da sua cidade, porque a cidade é de todos e é para todos.
1 - Perante as potencialidades e oportunidades que os espaços vazios oferecem, estes têm de ser analisados e pensados no âmbito da contribuição para o contínuo do espaço público na cidade.
2 - A existência de espaços públicos confere um contexto simbólico e um significado à cidade por providenciar pontos de encontro/convívio, caminhos, transições entre domínio público e privado e espaços de discurso e interacção.
3 - A identidade do lugar induz à apropriação e fixação do espaço - as características essenciais são a “imagibilidade” ambiental e a “imagibilidade” social
4 - A acção do cidadão enquanto interveniente activo na construção de vivências e espaços é urgente e cada vez mais necessária. Espaço Público é o espaço comum, pertença ou relativo a todo o cidadão e aberto e acessível a todos. Só faz sentido existir espaço público se ele for apropriado pela população.
5 - Através da acção directa ou da identificação com a estrutura e elementos do local, o cidadão integra o espaço no seu eu.
6 - A mudança física é de mais rápida e fácil exequibilidade que a mudança social. Esta requer uma rede de relações de suporte social característico e identificável capaz de conferir uma identidade comum.
7 - Operando convincentemente em pontos dispersos da malha urbana, num formato padronizado e regular de acção, mais facilmente se estabelecerá uma Identidade Social perante o espaço vazio e a sua apropriação pessoal.
O vazio, um ponto de partida para a interactividade e para a experimentação da acção e dos processos narrativos.
O que disse o júri:
Pelo modo como aborda a cidade a partir de uma acção simples e acessível a todos: a plantação de árvores em espaços degradados (como por exemplo o Miradouro da Travessa das Terras do Monte). Através desta acção, a proposta assume um manifesto pela participação colectiva na construção da cidade a partir de pequenos mas simbólicos gestos. A proposta teve ainda o mérito de não se ficar pela teoria.
Contributo para uma reflexão:
A proposta de Maria João Fonseca e Maria Quintino assume em pleno o tema desta competição, servindo de motivo a uma genuína intervenção na cidade. Como exemplo específico de uma acção com contornos de “guerrilla gardening”, pela apropriação de um espaço e fazendo dele local de uma ocorrência pública e social. Mas o debate que é lançado por esta feliz provocação vai muito para lá da especificidade do gesto que se ensaia. Abre-se assim uma reflexão sobre o carácter social dos espaços da cidade – o vazio entendido não como território de ninguém, mas antes como pertença de todos num sentido de responsabilidade colectiva.
Promove-se assim uma consciência pela necessidade de participação, com contornos que não se limitam ao domínio da acção pública, mas que seja igualmente aberto à intervenção dos agentes privados e, no limite, à acção dos próprios cidadãos sobre o espaço colectivo.
Tornar a cidade num palco de iniciativa; tornar o vazio num mundo de oportunidades únicas, transformando o nosso redor por gestos concretos que nos tornam a todos agentes da construção de um território vivo e fértil, onde a comunidade pode verdadeiramente acontecer.
The city as a performance theatre; the void as stage of operations
Maria João Fonseca and Maria Quintino
Images by António Bettencourt and Márcio Vilela
The proposal:
Active involvement of citizens as participants in the construction of living spaces is urgent and increasingly necessary.
Local administration is often powerless to maintain the whole city operational and functional, leaving the development of urban areas in the hands of private investors and individual initiatives.
Each citizen has the right to intervene in the construction of spaces in his city, for the city belongs to all and is meant for all.
1 – In the awareness of the potential opportunities that these urban voids have to offer, they should be analysed and thought upon as possible contributions to the continuity of the city’s public space.
2 – The existence of public spaces offers a symbolic context and a meaning to the city, providing points of gathering and interaction, transitions between the public and private realms.
3 – The identity of the place relies on its cultural expression.
4 – The citizen’s action while dynamic intervenient in the construction of living memories and spaces is urgent and necessary. The Public Space is the space of the community, as it belongs to every citizen, open and accessible to all. The true sense of a public space relies on its appropriation by the public.
5 – Through direct action, identifying urban structures and elements, the citizens integrate those spaces as a part of themselves.
6 – Physical change is easier to achieve than social change, for this requires a net of relationships that sustain a common identity.
7 – Operating on scattered places of the urban grid, in a patterned and regular form of action, will create a Social Identity over the empty space.
The void, a starting point towards interaction and experimentation in the making of narrative processes.
What the jury said:
For the way it addresses the city through a simple action that is accessible to all: tree planting in degraded spaces. Through this action, the proposal assumes a manifest for collective participation in the construction of the city, through small but symbolic gestures.
The proposal was not simply theoretical, therefore receiving an added consideration on its merits.
Contribute for a reflection:
This proposal by Maria João Fonseca and Maria Quintino takes the theme of the competition to its fullest, motivating a genuine intervention in the city. As a specific example of “guerrilla gardening”, by the appropriation of a particular space, it serves as motive to a public and social happening. But the debate it raises goes beyond the specificity of this gesture. An argument is made on the social character that is inherent to the spaces of the city – to understand the void not as a no-man’s land but as a good that belongs to all and encloses a collective responsibility. Demanding a greater awareness towards the recovery of these voids, the subtext of this proposal reclaims the participation of both public and private agents. To make the city a platform for initiative; to turn the void into a place of unique opportunities, transforming our surroundings through tangible gestures, to generate a living and fertile territory where a communitarian existence can ultimately happen.