A questão do preço de inscrição na Conferência Internacional tem sido uma das mais sensíveis, merecendo diversos comentários e reacções de leitores. As inscrições para a conferência encontram-se abertas online no site da Trienal e apresentam o custo de € 250 e € 150, sendo o segundo valor destinado a estudantes e estagiários.
Com mais de 25 participantes de inegável qualidade e um programa logístico intenso destinado a acolher uma audiência de 800 pessoas, a Conferência Internacional é um dos eventos mais robustos da Trienal de Arquitectura de Lisboa em termos de organização e despesas envolvidas.
A Trienal tem recebido um excelente acolhimento público e privado, estabelecendo muitos apoios e patrocínios com entidades que se interessaram por fazer parte desta ambiciosa iniciativa. Ainda assim, os custos inerentes à organização de um evento com esta dimensão obrigam a um trabalho rigoroso, com vista ao correcto equilíbrio dos preços daquelas iniciativas que terão acesso pago pelo público. Idealmente, o preço mais baixo será sempre o melhor.
No caso da conferência os valores estipulados são aqueles que foram entendidos como os mais correctos, no balanço entre a desejável acessibilidade pública e a sustentabilidade da sua organização. O acesso incluirá o serviço de almoço durante os três dias de conferência. Mais importante e conforme foi avançado aqui no blogue por José Mateus, comissário da Trienal, a entrada da conferência dará também acesso livre a todas as exposições durante os dois meses deste evento.
A conferência é, ainda assim, cara? Talvez mais relevante do que impôr uma verdade oficial seja deixar a questão em aberto à reflexão do público. Da minha parte acrescento apenas que ocorrem todos os anos dezenas de conferências na área da arquitectura, design e urbanismo em todo o mundo, com preços de inscrição que rondam facilmente as várias centenas de euros (300, 500 euros, em alguns casos bastante mais) – e, permitam-me a subjectividade, com programas bem menos interessantes dos que o da actual trienal.
O preço de entrada poderá representar um esforço sensível para muitos cidadãos, tendo em conta o actual panorama económico nacional? A pergunta fica lançada, com o desejo de que os interessados encontrem motivação para realizar o esforço desse investimento. Com a certeza de que o retorno pessoal de viver por dentro esta experiência única possa ser uma forte razão para não deixar de estar presente. DC
De andré fernandes a 22 de Abril de 2007 às 23:01
parece-me bastante caro para um arquitecto que ganha 4 euros à hora, não?
Obviamente que o preço não é alto. É barato e acessível, considerando o panorama. Mas não é acessível para quem deveria ser, e esse é o problema. Ou então deveria a organização da Trienal mudar o discurso que tem vindo a fazer, porque não se adequa. Mais: os dois primeiros dias são 5ª e 6ª feira, o que implicaria 2 dias de férias ou 2 dias sem ordenado para a maioria dos arquitectos portugueses. Admitamos: este ciclo de conferências tem "escala a mais" para Portugal e é demasiado "elitista" para a distribuição demográfica e económica da classe. Pessoalmente não condeno, é assim que deve ser. Mas não digam que "é para todos" porque não é.
Para já desculpem os erros linguísticos, não sou de cá; há inconvenientes a isso, mas também vantagens; por exemplo no facto de poder comparar as coisas certas : o problema não é de saber se, e em qual proporções, há "todos os anos dezenas de conferências (…) em todo o mundo" com preços de inscrição maiores. O problema é que esta conferencia da trienal decorre em Portugal !, e é também à imagem dá situação de dezenas de conferencias e workshop em Portugal que pedem pagamentos, até aos estudantes que os dinamizam! (e que já, as vezes, pagam a maior propina possível). Parece-me uma grande falha no acesso ao conhecimento e à sua partilha.
Voltando à Trienal, é mesmo porque "tem recebido um excelente acolhimento público e privado, estabelecendo muitos apoios e patrocínios" que lamentámos o preço da conferencia…sobretudo quando lemos "entidades publicas" ou seja que já patrocinaram o evento com a nossa directa participação! (embora estrangeiro, passo também eu recibos verdes).
Este argumento dos apoios deveria também encontrar um eco engraçado frente aos voluntários, que a organização requisitou com disponibilidades dignas de um trabalho part-time, mas excluindo-lhes a entrada na conferencia internacional…
Com certeza a "motivação para realizar o esforço desse investimento" não encontrara-se nestes argumentos.
No entanto, acreditam que ficou feliz de um evento assim decorrer em Lisboa, com toda a dinâmica implicada que iremos viver durante estes dois meses. Só lamento que não iremos vivê-la todos ao mesmo nível.
De José Mateus a 27 de Abril de 2007 às 00:29
Meus caros. Como já disse noutra parte deste blogue, apesar de todos os patrocínios que a Trienal possui, garantir que no final não dá prejuízo, não é tarefa fácil. É aliás uma tarefa dificílima. No caso particular da Conferência Internacional, mesmo com esses valores previstos para as inscrições, vai seguramente dar Prejuízo.
A hipótese que se colocava, era fazer, com estes valores para inscrições, ou simplesmente não fazer. Não tenho dúvidas que a nossa decisão de fazer, assumindo os riscos complexos que comporta, foi o melhor caminho. Quem se inscrever na Conferência vai tb ter almoços e coffee breaks gratuitos nesses dias e vai ter acesso grátis às exposições da Trienal. Para além disso, vai assistir a um evento único, raro, que transformará todos os que nele participarem.
Lamento que na Conferência seja assim, mas existirão inúmeras apresentações de entrada livre no Fórum da Trienal que acontecerá no polo II da Trienal, a Cordoaria.
E, com alguma imaginação esse investimento para garantir o acesso à Trienal até se arranja. Assim fiz eu o meu Inter-rail aos 19 anos.
Façam um esforço (investimento) e inscrevam-se. Vai valer a pena e vai ser inesquecível.
Obrigado por terem comentado.
Vazios? ilustres convidados? Lisboa-Nova-york ou basel, será que é igual ? Lá que os politicos e gestores, históricamente não confiem nos arquitectos portugueses, até aí tudo bem, o pior é quando o deslumbramento venha dos próprios arquitectos.
Alguem contou uma história em que um certo fulano, anos atrás na feira popular para arranjar mais clientes, apregoava "venham aqui pois temos um especialista do estrangeiro para assar as nossas sardinhas". Agora são os arquitectos que apregoam "venham ver como os especialistas que vomos buscar lá fora, nos vêm dizer como devemos, preencher os vazios da nossa Lisboa" Ainda bem que os arquitectos portugueses têm a mesma ideia que o tal assador de sardinhas da extinta feira popular.
Boa ideia, nesta cidade que o que mais precisa é de alguem que não conheça as nossas qualidades e defeitos, alguem que não conheça a nossa luz, o nosso temperamento e as nossas idiossicrancias, nos diga com é que esta cidade devia ser. Mas que grande ideia, foi de facto uma pena que o Bairro Alto, Alfama ou a Graça, não tenham sido concebidas por um qualquer arquitecto suiço, japonês ou Ucraniano, pena foi que o Marquês em vez de ter entregue a casa do risco a Manuel da Maia, não tenha chamado um notável arquitecto italiano para refazer a Baixa, pena foi que as Avenidas Novas tenham tantas obras do Ventura Terra ou do Norte Junior, pena foi que Duarte Pacheco tenha chamado tantos arquitectos de então como o Pardal Monteiro o Cassiano Branco ou o Segurado, e se os Olivais não tivessem sido planeados pelo Rafael Botelho e tenham tido obras do Teotónio Pereira, do Portas, do Tainha, do Victor Figueiredo ou do Pedro Cid.
Mas a maior asneira foi a Gulbenkian, a sortea foi que quando tiveram de fazer um novo museu aí sim, foram buscar um artista lá fora e saíu muito melhor, o que vale é que no ccb em Belém, foram logo buscar um estrangeiro, pois os outros nacionais não prestavam. Demorou tempo mas os arquitectos portugueses enfim perceberam que de facto não servem para "assar as nossas sardinhas".
Agora sim posso dormir descansado, pois sei estamos no bom caminho, agora a Zaha o Eisemman e o Perrault vêm até cá, para nos dizer como é que deviamos ter construido esta Lisboa, ainda vamos a tempo de fazer desta porcaria de cidade uma bela cidade.
Viva, viva e viva.
Enfim vamos deixar de dar trabalho aos arquitectos portugueses, que devem estar todos ricos, e têm a mania que percebem do assunto, para dizer-mos a todos quanto incompetentes eles têm sido, e qual esquimó gostam de oferecer a mulher ao hóspede, são de facto uma classe aberta, generosa e global, uma classe que acredita e aspira com esta iniciativa, a um dia poder ensinar aos outros como é que eles deviam fazer, na secreta esperança de um dia dormir com as suas belas mulheres, haja esperança, esse dia ainda á de chegar, nem que seja em sonhos.
Viva pois uma versão libertina da vida.
Carlos,
Todos temos o direito aos nossos desalentos mas não me parecem justos os termos com que aborda a trienal e, neste caso particular, a sua principal conferência. Não se trata de convidar arquitectos estrangeiros "para nos vir dizer como é que deviamos ter construido esta Lisboa". Trata-se afinal de discutir com um vasto painel de convidados, nacionais e estrangeiros, um conjunto de temas e problemas urbanos com os quais podemos estabelecer referências. Mas a trienal vai bem para lá da sua conferência mais visível e espectacular, com espaço de debate para inúmeros participantes portugueses - arquitectos, urbanistas, músicos, artistas - e vários concursos e iniciativas abertos a todos e em muitos casos especificamente a jovens arquitectos e estudantes de arquitectura.
Quanto à conferência, especificamente, não entendo porque havemos de ter qualquer complexo de provincianismo. Trata-se do contrário, abrir o espectro de cidadania de um evento que é também uma oportunidade única para escutar alguns dos mais relevantes pensadores da actualidade, em território nacional. Porque não ouvir Zaha, Eisenman, Perrault, mas também Hans Ulrich Obrist, Michael Sorkin, Mark Wigley e tantos outros que têm produzido reflexões com as quais temos, nas nossas especificidades, também muito a apreender.
Uma nota final quanto ao estrangeiro CCB. Lembro-me que o concurso foi aberto, com participações de arquitectos nacionais e estrangeiros - entre os quais uma belíssima proposta de Lina Bo Bardi que faria duplicar a controvérsia. Mas quanto ao projecto vencedor de Gregotti, é sempre de lembrar a colaboração com os muito portugueses Manuel Salgado e Daciano Costa. Afinal, não é tão estrangeiro assim. :)
Obrigado a todos pelos comentários.
Acho importante que da equipa coordenadora da trienal se tenha escrito um parecer esclarecendo a questão dos preços.
Em relação ao montante a pagar para assistir às conferências, ao contrário de alguns comentários não acho que seja de modo algum caro. Tendo em conta que são 3 dias de conferências com uma data e conferencistas de renome nacional e internacional, com entrada incluída na trienal, os 150€ para estudantes é um preço bastante justo. Já os 250€ para arquitectos penso que será um pouco inflacionado, mas no entanto não deixa de ser um preço justo.
Quando digo justo não digo acessível, porque estamos em Portugal e como todos sabemos um arquitecto em portugal ganha pouco e trabalha muito, logo torna-se complicado fazer este investimento a não ser que esteja extremamente interessado e tenha disponibilidade.
Penso que no final as conferências irão estar esgotadas e que a grande maioria dos espectadores serão estudantes (o que também é bom).
Eu tenho pena de não ir, não é pelo preço (poderia ser), mas sim pelo conjunto de despesas do Porto para Lisboa mais bilhete mais estadia, fazendo as contas por alto ficava à volta dos 240€. Mas também infelizmente estas conferências surgem numa altura em que os alunos de arquitectura estão com algumas entregas de trabalhos e possivelmente do trabalho de projecto, logo torna-se complicado distanciarmo-nos e suspender o trabalho por uns dias.
Não quero com isto desculpar-me, teria imenso gosto em participar nas conferências, mas vou aproveitar um outro fim de semana para ir a lisboa e visitar com calma a trienal sobre a qual tenho grandes expectativas.
continuação de um bom trabalho!
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