Ecos da trienal na blogosfera: Bárbara Miranda do blogue A2arquitectas comenta o filme As Operações SAAL, realização de João Dias, cuja sessão de ante-estreia decorreu no passado dia 4.
Ontem fomos assistir ao S-Jorge à ante-estreia do documentário “As operações SAAL” do realizador João Dias. Este filme , produzido pela “Extra Muros” e “Bazar do Vídeo” é o resultado de quase dois anos de investigação, recolha de depoimentos e opiniões de pessoas e arquitectos que estiveram directamente envolvidos neste grande projecto de habitação social que se deu no período pós 25 de Abril: o SAAL (Serviço de Apoio Ambulatório Local). Estará disponível (ainda não se sabe quando) em DVD e exibido já no próximo dia 31 de Julho no Festival "Andanças".
É sem dúvida um documentário polémico que ataca o exercício da Arquitectura em várias frentes. Um dos grandes desafios de sempre é o realojamento da população aquando da demolição de alguns bairros e consequentemente todos os costumes, modos de vida e carências a ter em conta na realização de um projecto de habitação social. A ideia é aliciante: os arquitectos ouvem as associações de moradores e tem lugar uma requalificação desse mesmo espaço com um novo projecto de habitação social. Após a revolução, as carências de habitação são pensadas numa lógica de auto-reconstrução e não na entrega de chaves em bairros sociais. O que este documentário retrata é entre outras coisas, a não concretização desses projectos. O problema da auto-construção (ainda cerca de 30 % da construção actual do país) é o não cumprimento do projecto de arquitectura e inevitavelmente o aparecimento de anexos pós-anexos-pós-anexos à medida que a família aumenta, alterações de pavimentos ou materiais, artes decorativas tipicamente “tugas” e pequenos caprichos “estéticos” ou funcionais que aleatoriamente os moradores tomam rédeas na sua construção, a fim de obterem a sua casa de sonho.
É interessante ver a reacção dos moradores e reflectir sobre esta problemática. Afinal, “o modo de construir para ricos é diferente de construir para pobres?” – Afirmou o Arqº Nuno Portas no debate que se seguiu à projecção do filme. A arquitectura não é suposto ser para todos? O que falhou no SAAL?