Mark Wigley marcou um dos momentos mais altos da conferência internacional com uma apresentação intitulada “Void Set”.
O ponto de partida para a sua exposição começou como a interrogação sobre a cidade contemporânea enquanto espaço de cenografia. No teatro da cidade o arquitecto providencia o palco. O “actor” tornou-se uma espécie de audiência, e a audiência é também “performer”. Estamos todos num palco, numa performance contínua em que se dissipou a fronteira entre palco e bastidores. “A cenografia é realidade e nós somos cenografia”. Entre a verdade de um objecto e o seu efeito, qual pode ser o verdadeiro lugar da arquitectura?
“Os arquitectos só conversam uns com os outros, e só falam sobre arquitectura, não têm fins-de-semana, sacrificam tudo pela arquitectura e às vezes conversam com os arquitectos mortos e há uma grande conversa com os arquitectos mortos sobre a possibilidade da arquitectura como verdade”.
Prosseguiu falando da dificuldade em abordar o próprio tema: “Estamos aqui há horas e a palavra ‘vazios’ não apareceu em nenhuma discussão. Vocês cobraram bilhetes para as pessoas virem até aqui ouvir falar de uma palavra que nunca vai ser dita? Este assunto é tão importante que não pode ser falado?”
Questionou a forma como os arquitectos abordam o problema dos vazios numa realidade urbana cada vez mais densa e intensificada – a necessidade de remover o vazio por uma centralidade, de preencher o vazio. “E se esse for um erro? E se o vazio se tornar ele mesmo num centro; o vazio como elemento contrastante da densidade? Qual é então, hoje, o papel do vazio?”.
Wigley avançou a ideia de uma arquitectura enquanto sistema de vazios – “o vazio é a substância da ausência”. “Os vazios são a verdadeira essência da arquitectura”.
“Um arquitecto é alguém que muito simplesmente não sabe o que é um edifício”. Alguém que se interroga sobre a sua natureza, para quem o objecto arquitectónico não é um objecto sólido mas uma experiência complexa e misteriosa. O seu trabalho é assim aprofundar a fragilidade da experiência arquitectónica do objecto sólido, criando um momento de hesitação e descoberta. “O nosso amor pelos edifícios resulta de não sabermos realmente o que eles são”.
“Os arquitectos constroem possibilidades”. Por isso, “um vazio é uma interrogação; um convite à experiência”. “O vazio está no coração da cidade, no seu núcleo. Existe uma necessidade estrutural do vazio. O vazio é, na verdade, infraestrutura”.
Na sessão de debate, Mark Wigley aprofundou algumas das suas ideias. “Ser arquitecto é sacrificar-se por uma arte que não é amada”. Porque é sempre colocada à prova, os arquitectos têm de agir como se estivessem certos daquilo de que o público duvida. “Mas nós não sabemos – e isso é teatro; é performance”. Como um actor, assim descreveu Wigley, o arquitecto sofre, mas sofre alegremente. “O arquitecto é uma figura de crise”, um profissional da complexidade, perito não em oferecer respostas mas em encontrar novas formas de olhar para as perguntas e interrogações do seu tempo.
Mark Wigley’s presentation – “Void Set” – was one of the highlights of the international conference.
Wigley started by questioning the role of the contemporary city as a space of cenography. In the theatre of the city, the architect provides the stage. The performer becomes a kind of audience, and the audience is also a performer. We are all in a stage, in a continuous performance where the frontier between front and backstage has disappeared. “Cenography is reality and we are cenography”. Between the truth of an object and its effect, what is the truth of architecture?
“Architects only talk to each other, and they only talk about architecture, they have no weekends and sacrifice everything for architecture. And sometimes they talk to dead architects and there is this big conversation with dead architects about the possibility of architecture as representing the truth”.
He proceeded addressing the difficulty to approach the very subject of the conference: “We have been here for hours and the word “voids” hasn’t appeared in any discussion. You charged tickets for people to come here and talk about a word that will never be spoken? This subject is so important it cannot be talked about?”
Wigley questioned the way architects deal with the problem of the “void” in an urban reality that is growingly denser – the need to remove the void for a centrality, to fill the void. “What if this is a mistake? What if the void becomes the centre; the void as a contrasting element of density? What is then, today, the role of the void?”
Wigley described architecture as a system of voids – “the void is the substance of emptiness”. “Voids are the very essence of architecture”.
“An architect is someone who simply doesn’t know what a building is!” Someone who questions its nature, for whom the object of architecture is not the solid object but a complex mysterious experience. Our work is to study the fragility of the experience of the solid object, creating a moment of hesitation and discovery. “Our love for buildings is that we really don’t know what they are.”
“Architects construct possibilities”. For that reason, “a void is a question; an invitation to experience”. “The void is in the heart of the city, in its core. There is a structural need for the void. Void is actually infrastructure”.
In the following debate, Wigley developed some of his ideas. “To be an architect is to sacrifice for an art that is not loved”. Because it is always being questioned, architects have to act as they are absolutely certain of that which the public doubts. “But we don’t know – and that is theatre; it is performance”. As an actor, so described Wigley, the architect suffers, but he suffers gladly. “The architect is a figure of crisis”, a professional of complexity and multi-tasking, an expert not in offering the answers but in finding new ways of addressing the questions and interrogations of its time.